sexta-feira, 15 de maio de 2015

a teconologia e meio ambiente e limite de crescimento

Índice

 

Introdução

No início dos anos 1970, a crescente preocupação com a degradação ambiental causada pela acção humana na busca pelo progresso material gerou, tanto no meio científico quanto na sociedade, um debate intenso que questionava a busca incessante do crescimento económico pelos países e que discutia a existência de limites físicos impostos pelo meio ambiente a esse crescimento.
Nesse contexto, por um lado, figuravam posições optimistas, que apostavam na superação dos limites naturais a partir dos avanços tecnológicos; por outro, havia, por parte de alguns pesquisadores, certo pessimismo quanto ao papel da tecnologia na contenção das pressões da actividade humana sobre o meio ambiente.
Portanto, é neste contexto que surgem o presente trabalho na cadeira de Estagio profissional, com o tema: Tecnologia e meio ambiente limite do crescimento, do qual pretende-se alcançarem os seguintes objectivos:

Objectivo geral         

Ø  Compreender a Tecnologia e meio ambiente limite do crescimento.

Objectivos específicos:

Ø  Explicar a Tecnologia e meio ambiente limite do crescimento;
Ø  Descrever a Tecnologia e limite do crescimento físicos;
Ø  Explicar os limites do crescimento económico;
Ø  Caracterizar o Debate Ambientalista sobre Tecnologia e Meio Ambiente nos Anos 70.

Métodos de procedimentos usados.

Para a efectivação e cumprimento dos objectivos ora traçados, foram privilegiados os métodos de observação directa e a consulta bibliográfica.      




1.TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE, LIMITE DO CRESCIMENTO

1.1.Contextualização

Estas notas apresentam uma leitura de contribuições seleccionadas para o debate sobre a “tecnologia e os Limites do Crescimento”, que marcou o final dos anos 1960 e inicio dos 70, mais especificamente no que tange aos pontos de vista dos autores frente `as relações entre tecnologia e meio ambiente. Uma introdução sintética aos temas do debate é realizada com base em contribuições de fora do campo da Economia, em especial das obras originais dos biólogos norte-americanos e de grupos de debate dores privilegiados. Posicionamentos de economistas filiados a diversas correntes teóricas são brevemente retomados.

1.2.Tecnologia e limite do crescimento físicos.

O debate sobre crescimento e limites físicos nos anos 70 é, em parte, polarizado entre pessimistas e optimistas tecnológicos. Impulsionou as críticas aos avanços da tecnologia ao direccionar as atenções da comunidade, os impactos e perigos da utilização de pesticidas químicos na agricultura.
A utilização de químicos sintéticos no controle de alguns insectos indesejáveis à agricultura era responsável não apenas pela contaminação de plantas, animais, água e solo, mas representava também um perigo à saúde humana em razão do manejo desses pesticidas na produção agrícola e da possibilidade de ingestão de alimentos contaminados (CARSON, 1962).

1.3.Os limites do crescimento económico

A população dos países em desenvolvimento é hoje quatro vezes maior que a dos países industrializados e a maioria desta população vive em condições de pobreza. O crescimento económico é a solução que a maioria dos economistas e políticos propõem para gerar uma maior prosperidade e igualdade nas diferentes regiões do planeta. O problema disso é que o processo de crescimento económico mundial nas últimas décadas foi também acompanhado pela degradação do meio ambiente e pelo uso excessivo de recursos naturais, configurando uma situação de alto dispêndio de energia.
A intensificação de problemas sócio-ambientais como: os processos de urbanização acelerada; o crescimento e a desigual distribuição demográfica; a expansão descontrolada do uso de energia nuclear, com finalidades bélicas ou pacíficas; o consumo excessivo de recursos não-renováveis; os fenómenos crescentes de perda e desertificação do solo; a contaminação tóxica dos recursos naturais; o desflorestamento; a redução da biodiversidade e da diversidade cultural; a geração do efeito estufa e a redução da camada de ozónio e suas implicações sobre o equilíbrio climático, todos estes aspectos, entre outros de um pouco menor relevo, têm impactado a opinião pública mundial e atraído atenção para uma realidade, até a poucas décadas observada. Mais recentemente, os analistas da problemática ambiental têm reconhecido que pobreza e ecologia são realidades interdependentes, que precisam ser compreendidas e abordadas de forma integrada, na busca de um equacionamento mais adequado.
A fundação do Clube de Roma em 1968, que em 1972 publicou o conhecido relatório "Limites do Crescimento" (Meadows et al., 1972) foi um dos principais fatos para a ampliação da divulgação do tema. O referido relatório denunciava que o crescente consumo mundial ocasionaria um limite de crescimento e um possível colapso do ecossistema global.
O relatório atentava para a preocupação com as principais tendências do ecossistema mundial, extraídas de um modelo global articulando cinco parâmetros: industrialização acelerada, forte crescimento populacional, insuficiência crescente da produção de alimentos, esgotamento dos recursos naturais não renováveis e degradação irreversível do meio ambiente.
A divulgação de "Limites do Crescimento" ganhou grande repercussão mundial, desencadeando uma série de reacções críticas ao que foi considerado seu tom apocalíptico, com a tese do crescimento (populacional e industrial) zero. Inegavelmente catastrofista, o relatório previa uma incontrolável mortandade da população por volta de 2050, provocada pelo esgotamento dos recursos naturais, consequência do aumento da produção industrial e de alimentos para atender ao crescimento exponencial da população.
 A tecnologia e o Limites ao Crescimento desencadeou várias avaliações contrárias, mas o impacto foi inequívoco: a questão ambiental a partir desse momento faria parte da teoria económica, tanto em nível dos insumos, como dos efluentes e rejeito.
A reacção mais forte a "Limites do Crescimento", partiu dos tecnocentristas, os quais explicitaram a deficiência dos dados empíricos do modelo, que afinal 30 anos depois, mostraram-se realmente demasiado pessimistas. Além disso, os tecnocentristas demonstravam também sua confiança extremada no tratamento agregado e a ausência de mecanismos compensatórios, negligenciando os ajustes via preços e os processos de substituição dos factores produtivos a eles relacionados.
Por seu turno, a Conferência da ONU sobre o Ambiente Humano, conhecida como Conferência de Estocolmo, realizada em 1972, gerou a Declaração sobre o Ambiente Humano e produziu um Plano de Acção Mundial, com o objectivo de influenciar e orientar o mundo na preservação e melhoria do ambiente humano. As grandes preocupações, dentre elas a poluição e a questão da chuva ácida na Europa, levaram a Conferência de Estocolmo a reflexão, de forma mais ampla, das questões políticas, sociais e económicas envolvidas, "onde as recomendações passaram a ser mais realistas e mais próximas da vida e da qualidade da vida humana" (Maimon, 1992, p.21).
Costuma-se atribuir como principais causas deste processo uma explosão demográfica, como foi a tese de Malthus (1983), no século XIX, retomada na década de 70 pelo Relatório Meadows (1972). Antes disso, porém, a principal causa que se atribui às mudanças ecológicas refere-se à forma de exploração económica; a crítica no caso desta, se refere basicamente à lógica da dinâmica capitalista.
A tecnologia virou uma panaceia a qual se atribui a capacidade de superar todos os limites naturais, elevar a produtividade do trabalho e resolver todos os problemas ambientais, enquanto avança o progresso desenvolvimentista.
Contudo, estas panaceias tecnológicas são usadas, na maioria das vezes, para escamotear os problemas de degradação ambiental da nossa cultura industrial global e suas insustentáveis perspectivas de longo prazo.
Na prática, o capitalismo utiliza a ciência e a tecnologia para seus objectivos de maximizar o lucro e garantir a continuidade do crescimento da acumulação de riqueza, embora haja uma pauperização crescente do meio ambiente. Mas na prática, a tecnologia não resolveria nenhum grande problema humano se não contasse com os recursos materiais e energéticos da natureza.
Assim, discutir os limites do crescimento económico passa pela compreensão do conflito entre o processo de concentração da riqueza humana (com todas as suas desigualdades sociais) e o processo de depleção dos recursos naturais. É cada vez mais urgente se buscar formas de vida sustentável, respeitando-se a biodiversidade e os direitos intrínsecos da Terra. Não existe modelo econométrico capaz de resolver a equação do crescimento material infinito em um planeta finito.

1.4.O Debate Ambientalista sobre Tecnologia e Meio Ambiente nos Anos 70.

Quando do debate sobre os “limites do crescimento”, no Inácio dos anos 70, prevalecia a ideia de que o progresso tecnológico era um paliativo, capaz de postergar, mas não de fornecer meios para ultrapassar os limites do crescimento económico e populacional. A ideia de que a tecnologia poderia ampliar esses limites era vista ate mesmo como perigosa.
As conclusões da pesquisa indicavam que a escassez de recursos naturais e a degradação ambiental seriam os principais limitadores, em termos absolutos, do crescimento económico, e que os avanços tecnológicos não seriam capazes de conter as pressões ambientais decorrentes da crescente actividade humana (CORAZZA, 2005).
Alem disso, Meadows et all (1972) também alertavam sobre os riscos que a tecnologia pode colocar ao ambiente. Discutia-se o facto de que as tecnologias desenvolvidas e aplicadas com objectivos de aumentar o bem-estar da sociedade, como as tecnologias agrícolas voltadas para o aumento da produtividade das culturas, manifestam, com o tempo, efeitos indesejáveis.
Assim, segundo Meadows et al. (1973, p. 19), os problemas fundamentais enfrentados pela sociedade decorreriam da manutenção de um crescimento económico ilimitado frente à existência de um planeta com recursos naturais finitos. O crescimento exponencial do consumo e da população levaria à exaustão dos recursos do planeta e a crescentes níveis de poluição em um futuro não muito distante.
As tendências de crescimento da população mundial – industrialização, poluição, produção de alimentos e diminuição de recursos naturais – continuarem imutáveis, os limites do crescimento neste planeta serão alcançados algum dia dentro dos próximos cem anos. O resultado mais provável será um declínio súbito e incontrolável, tanto da população quanto da capacidade industrial (MEADOWS et al., 1973, p. 20).

A mudança tecnológica, em qualquer cenário do modelo, não alteraria de forma significativa os resultados. Por um lado, a utilização de energia nuclear, por exemplo, permitiria ampliar de forma indefinida a produção, mas, por outro, geraria níveis crescentes de poluição.
Ou seja, a introdução de avanços tecnológicos apenas adiaria o colapso resultante do aumento da actividade humana e, portanto, segundo a equipe de Meadows, a única forma de impedir o colapso previsto seria combater as fontes de crescimento exponencial com uma política de crescimento económico zero.
O autor já chamara atenção, na década anterior, para os “efeitos colaterais” do uso de pesticidas como, por exemplo, sua acção prejudicial sobre a qualidade da água, sua comutatividade na cadeia trófica e os danos que pode provocar `a saúde humana.
Uma economia cuja produção fosse baseada intensivamente na utilização de recursos naturais inevitavelmente encontraria limites ao crescimento. No entanto, considerar que tal modelo de crescimento económico será prolongado durante muitas décadas adiante é desconsiderar as possibilidades futuras, em aberto para a sociedade, de fazer uso inteligente da mudança tecnológica e, assim, modificar o padrão de crescimento.
O debate sobre crescimento económico sempre foi intenso na teoria económica. Os países menos desenvolvidos buscam alcançar o mesmo padrão económico (de consumo) dos países desenvolvidos (PD). Entretanto, o alto padrão de consumo desses países, se for estendido para todos os países do planeta, torna - se inviável por alguns motivos, entre eles:
ü  o padrão tecnológico vigente, que seria adoptado por todos os países, é intensivo em energia e matérias - primas. Existe, portanto, um limite de recursos naturais e fontes de energia à adopção desse mesmo padrão tecnológico por diversos países;
ü  não há tecnologia disponível que aproveite 100% dos insumos. Juntamente com a produção surgem os refeitos industriais e se suas quantidades forem maiores que a capacidade de absorção do meio ambiente, geram a poluição. Essa tem efeitos negativos sobre a saúde humana, sobre a qualidade dos recursos naturais, afectando a harmonia dos ecossistemas;
ü  o uso de determinados produtos gerados pela tecnologia vigente têm como consequência a geração de poluição. A quantidade de poluição resultante da adopção dos padrões de consumo dos PD por toda a população mundial tornaria o planeta sem condições de ser habitado, dado o surgimento de problemas ambientais globais e locais.

 

2.A inovação da tecnologia no enfoque evolucionista

A análise da mudança tecnológica e da inovação deve ser feita numa perspectiva dinâmica. Uma determinada tecnologia, a partir de um certo momento, não mais satisfaz plenamente seu usuário. Surgem problemas e esses são solucionados com inovações.
Entretanto, quando se introduz uma inovação não se sabe exactamente seus resultados e, muitas vezes, inovações incrementais são necessárias para adapta - la a novas situações, revelando o carácter incerto do processo inovativo. Portanto, essa constante mutação ao longo do tempo não pode ser analisada sob um ponto de vista estático. O passado pode ser analisado historicamente; o momento actual e as perspectivas futuras num enfoque evolucionista.
Para os economistas evolucionistas, o conhecimento tecnológico pode ser codificado ou tácito. No primeiro caso, o conhecimento pode ser transmitido através de manuais ou de descrição de procedimentos de como empregar determinada tecnologia. O conhecimento tácito, diferentemente, só é adquirido pelo uso de uma dada tecnologia, ele é fruto de experiências pessoais e, por isso, é difícil de ser transmitido e codificado.
Em relação às tecnologias, elas podem ser universais - quando o conhecimento é difundido e são princípios gerais de ampla aplicação - ou específicas - no caso em que  resulta de procedimentos específicos desenvolvidos através da experiência. Outra distinção importante se faz entre tecnologias públicas, de livre acesso a todos, e as privadas, vindas de conhecimento tácito ou protegidas por patentes e segredos industriais.
Segundo Hall (1994),
o processo de inovação corresponde a todas as actividades que geram mudanças tecnológicas e a interacção dinâmica entre elas, sendo que não necessariamente precisam ser novidades. Ao inovar, a firma está buscando solução para um determinado problema, que é resolvido dentro de um paradigma tecnológico, isto é, dentro de determinados padrões de soluções amplamente aceitos baseados nos princípios das ciências naturais.

 

2.1.As inovações da tecnologia ambientais

O estudo dos problemas ambientais deve, também, ser feito através de uma perspectiva dinâmica. Numa análise histórica, pode - se perceber que os problemas ambientais mudam ao longo do tempo. Como ilustram no final do século XIX, o uso de cavalos como meio de transporte trouxe grandes problemas ambientais para a cidade de Londres.
Dado que cada cavalo produz em média 16 kg de estrume por dia, o uso intensivo desse meio de transporte causou diversos transtornos à cidade, fazendo com que tivesse cerca de 6 mil varredores de ruas, a fim de limpar a passagem para os pedestres.
Apesar de já estarem disponíveis outros meios de transporte, eles não eram adoptados em função das regulamentações que limitavam a velocidade em oito milhas/hora e pela pequena escala de produção. Foi constatado, entretanto, que os carros emitiam 200 vezes menos resíduos que os cavalos, quando as emissões eram medidas em gramas por milha.
A questão da comutatividade e da irreversibilidade dos danos ambientais é igualmente relevante. No primeiro caso, novos problemas vão surgindo à medida que o meio ambiente torna - se mais degradado. A acumulação na atmosfera de dióxido de enxofre, por exemplo, provoca chuva ácida, sendo necessárias inovações para lidar com o problema. No que tange à irreversibilidade, as inovações são necessárias para recompor o meio ambiente.
O desmatamento desordenado faz com que terras antes férteis tornem-se desertos, aniquilando a flora e a fauna locais. Tecnologias de recuperação de solos e de reflorestamento são necessárias para recompor o ecossistema local, entretanto, dadas as especificidades ambientais, muitas vezes são necessárias inovações incrementais nesse processo. Tais inovações, incrementais ou não, podem trazer outros problemas ambientais, como no caso da substituição do cavalo como meio de transporte por veículos automotores.



Conclusão

Feito o trabalho concluiu-se estas notas apresentam uma leitura de contribuições seleccionadas para o debate sobre os “Limites do Crescimento”, que marcou o final dos anos 1960 e inicio dos 70, mais especificamente no que tange aos pontos de vista dos autores frente `as relações entre tecnologia e meio ambiente.
Ainda a intensificação de problemas sócio-ambientais como: os processos de urbanização acelerada; o crescimento e a desigual distribuição demográfica; a expansão descontrolada do uso de energia nuclear, com finalidades bélicas ou pacíficas; o consumo excessivo de recursos não-renováveis; os fenómenos crescentes de perda e desertificação do solo; a contaminação tóxica dos recursos naturais; o desflorestamento.
Quando do debate sobre os “limites do crescimento”, no Inácio dos anos 70, prevalecia a ideia de que o progresso tecnológico era um paliativo, capaz de postergar, mas não de fornecer meios para ultrapassar os limites do crescimento económico e populacional. A ideia de que a tecnologia poderia ampliar esses limites era vista ate mesmo como perigosa
A análise da mudança tecnológica e da inovação deve ser feita numa perspectiva dinâmica. Uma determinada tecnologia, a partir de um certo momento, não mais satisfaz plenamente seu usuário. Surgem problemas e esses são solucionados com inovações.
O estudo dos problemas ambientais deve, também, ser feito através de uma perspectiva dinâmica. Numa análise histórica, pode - se perceber que os problemas ambientais mudam ao longo do tempo. Como ilustram Kemp e Soete (1990), no final do século XIX, o uso de cavalos como meio de transporte trouxe grandes problemas ambientais para a cidade de Londres.



Bibliografia

CARSON, R. Silent spring. Boston: Houghton Mifflin, 1962.
CORAZZA, R.. Economia Ecológica: uma Agenda de Pesquisa in Valorando a Natureza, Análise Econômica para o Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2005.
FOLADORI, G.. Los límites del desarrollo sustentable. Montevideo: Ediciones de la Banda Oriental, 1999.
HALL, Peter. Innovation, economics and evolution: theoretical perspectives on changing technology in economic systems. New York : Harvester Wheatsheaf, 1994.
MEADOWS, D. & Behrens, W. Limites do Crescimento: Um Relatório para o Projecto do Clube de Roma sobre o Dilema da Humanidade. Perspectiva, Sao Paulo. Tradução Ines M. F. Litto. 1972.
MEADOWS, D. L., MEADOWS, D. H., RANDERS, J. & BEHRENS, W.W. Limites do crescimento- um relatório para o Projeto do Clube de Roma sobre o dilema da humanidade. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1972.
MAIMON, D. Ensaios sobre economia. Rio de Janeiro: APED, 1992
TAYRA, F. A relação entre o mundo do trabalho e o meio ambiente: limites para o desenvolvimento sustentável. 2002.


sexta-feira, 8 de maio de 2015

REVOLTA DE BARUE

Índice

 

Introdução

O presente trabalho abordara aspectos referentes as resistências africanas, mas especificamente da revolta de Báruè
Após a delimitação de fronteiras moçambicanas, passou se para a fase de fixação nas colónias. A presença dos portugueses na região centro ao longo do vale do Zambeze resultou numa revolta a que se de revolta Zambeziana e restritivamente de revolta  de bárue, encabeçada pelos vários Macombes.
No que tange aos objectivos, temos como objectivo geral: conhecer o desenrolar da revolta de Báruè; e como objectivos específicos propomos: dar o conceito de revolta; mencionar as causas da revolta; demonstrar a relação existente entre as revoltas (de Báruè) e o nacionalismo africano.
No tocante a estrutura, ele obedece a seguinte: conceito da revolta de Báruè; causas; o desenrolar da revolta; objectivos da revolta; causas do fracasso da revolta e, por fim temos as consequências da mesma.
No que concerne as metodologias usadas, temos a consulta bibliográfica como a base.
As dificuldades sempre existiram, mas com muito esforço foram ultrapassadas pelo grupo.
Esperamos que o conteúdo do trabalho seja útil à todos que tiverem acesso ao mesmo.







1.A REVOLTA DE BÁRUÉ

A resistência a ocupação colonial portuguesa em 1904, no território moçambicano foi feita com o surgimento das alianças em 1917 centrada em Báruè com objectivo de libertar a sua terra natal, expulsando os portugueses e aqueles que ajudavam a perpetuar o sistema colonial na zona.

1.1.Localização do estado de Báruè

O Estado de Báruè é limitado ao norte pelo curso de Luenha, ao sul pelo curso de Punguè, a leste por uma grande linha que define os prazos como: Massangano, Tambara e Gorongoza, e a oeste pela fronteira da Rodésia. O seu máximo comprimento, medido do Luenha e o Pungué é de 370 km aproximadamente.

1.2.Surgimento e desenvolvimento do Estado de Báruè

Báruè foi produto da desagregação do Estado de Muenemutapa, reino bastante poderoso, consegui resistir à devastação Nguni e às disputas com os Estados Militares vizinhos, apesar de constantes e sucessivas crises de sucessão.
Báruè era impróprio para qualquer exploração agrícola comercial, a cerca era ainda, em 1902, o único produto negociado pelos Baruítas, juntamente com algum marfim de elefante e ouro de aluvião.
Não foi, portanto, sob o impulso de um expansionismo essencialmente financeiro que os portugueses agiram, as suas preocupações eram, antes de tudo, políticas, pois não podiam continuar a tolerar junto de uma fronteira internacional, um estado independente que não só recolhia, ajudava e estimulava tudo quanto na Zambézia meridional havia de “rebelde”, como também se gabava de ser invencível.
Essa suposta invencibilidade funda-se nas vitórias Baruitas e seus aliados contra João de Azevedo Coutinho em 19 de Novembro de 1891 e Manuel António de Sousa à 20 de Janeiro de 1892. O ter-se desembaraçado sucessivamente dos dois (2) mais temíveis homens de guerra que os portugueses dispunham denotava, aos olhos dos africanos, uma industrutibilidade do Báruè que não podia deixar de ser sobrenatural.

2.A grande revolta na Zambézia: a revolta de Báruè (1917-1918)

Segundo Pelissier (1994:334-344) a grande revolta de 1917-1918 na Zambézia restritivamente é classificada como revolta de Báruè.
Escreveu ainda Pelissier (1994:344) que “revolta de Báruè foi uma rebelião pan-étnica que reuniu momentaneamente grupos tradicionalmente hostis (Báruè e Monomutapa) aos seus antigos feudatários mais ao menos perdidos (Tongas, Gorongosa), e por vezes seus inimigos (Chicundas e descendentes de alguns senhores de prazos) ”.

2.1.Causas da revolta

Sabemos que o Báruè era uma simples circunscrição directamente administrada pelo Estado, cujas actividades se limitavam a cobrança de Mussoco (idem:345).
Para SERRA (2000, p.313) acrescenta ainda que tudo começa em 1914, quando governo Português decidiu mandar construir uma estrada ligando Tete e Macequece, passando por terras de Báruè - que permitisse um maior controlo administrativo da zonas interiores e, o recrutamento fácil de homens para lutar contra os alemães que haviam penetrado em Moçambique pelo norte, vindos de Tanganyica no decorrer da I GM. Esse recutamento era feito duma forma abusiva do pessoal administrativo;
De acordo com Pelissier (1994, p.345) aborda que a abertura da estrada acima supracitada, resultou a recruta intensa de carregadores e trabalhadores forçados, já avaliados em vários milhares por ano. O seu recrutamento efectuava-se nas habituais condições de exploração: coerção, ausência de salário e alimentação, violação das mulheres e garrotas pelos sipaios e por certos brancos, impossibilidade de obter a reparação dos abusos, etc
·         Recrutamento compulsivo da mão-de-obra e sem remuneração na construção de uma estrada, ligando Tete à Macequece, passando pela terra dos Báruè;
·         Abusos de sipaios aos trabalhadores recrutados em 1914.


2.2.Preparação da rebelião

Nas vésperas da rebelião em virtude das guerras de 1902, esta importante comunidade do Zambeze estava dividida em duas chefaturas : Nongue – Nongue com a capital em Mungari e Matrosa, primo de Nongue, que governava os territórios do sul do interior de Gorongosa.
O aparecimento na cena politica zambeziana de uma jovem de nome Mbuya, Nongue - Nongue para levar a cabo os seus intentos iniciou um intenso trabalho diplomático, visando a formação de uma ampla coligação anti-colonial zambeziana.

2.3.Início da rebelião

A revolta de Bárue iniciou a 27 de Março de 1917, quando Chemba, Tambara e Chiramba foram atacados e paralelamente os camponeses de Sena e Tonga se soblevaram.
Em Abril os portugueses foram expulsos de Massangane, Cheringoma, Gorongosa e Inhaminga. Instalaram-se na companhia de Moçambique. Os Barue cercaram Tete, Zumbo estimulando outros povos ainda oprimidos (sobretudo os do sul).

2.4.A política expansionista de Makombe

Após a consolidação do estado nos actuais distritos de Guro, Barue e Makossa foi organizada uma campanha de submissão de outros povos ao estado, como evidencia, tem-se o facto dos Nhangulos serem considerados donos da terra.

Makombe chegou a controlar a região que vai de Gorongosa à actual fronteira com o Zimbabwe, de Tambara, Mungari, Chemba a Norte, ao rio Pungue a Sul. Ora, estas conquistas foram impulsionadas pelos Mhondoros de guerra.

2.4.1.Estrutura política e administrativa dos Makombes.


Ate finais do seculo XVII, Os possuiam o estatuto de uma unidade politica independente do mwenemutapa. Segundo Pelissier, (1994, p.17), “A politica expansionista e de dominação adotada por Makombe [...] e o modelo de estrutura politica administrativa [...] foi semelhante em muitos aspectos a de Mutapa, com quatro principais agentes do poder:”

Para a administração do território o mambo (Makombe), contava com assistência de um conselho de ancião e com os Nyangulos, os Madodas formavam um conselho restrito que integrava também membros da família real. A indicação dos madodas era com base no prestígio e respeito que gozavam na comunidade.

O pagamento de tributos era praticado entre as chefias, é provável que se pagasse taxa de trânsito de mercadorias e resolução de conflitos. O título Nyangulo era hereditário do pai para o filho.
 Isaacman 1976, apud Pires (2006, p.18), afirma que “a disputa do trono entre Makombe Nongwe Nongwe e Makossa foi resolvida por Mbuya medium herdeira do Kabudo Kagoro. ”

2.4.2.Decorrer da guerra

O Báruè foi o centro da revolta de 1917-1918, (idem:345).
Depois da guerra de 1902, a chefatura ficou duramente debilitada. O Macombe Tanga e vários dos seus conselheiros estavam refugiados na Rodésia do sul. O Macombe morreu ali em 1910, mas depois de ter transmitido ao seu irmão ou a seu filho mais velho Chikowore, que recebeu o nome de Nongue-Nongue, as pretensões ao título de Macombe, (ibdem:346). Destas pretensões surgem rivalidades entre os dois ramos reais do Báruè que impediu a constituição de uma sólida frente. Nongue-Nongue que tinha estado sempre no Báruè e tinha regressado do exílio, dominava a partir de Mungari, o centro do antigo reino. Mas, mais a sul na Gorongosa, levava-lhe a melhor outro Macombe, seu primo Macossa. Ambos se diziam macombes de direito e esperavam a derrota do outro para reinar em todo Báruè. Nem um nem o outro nos parecem, a princípio, decididos à insurreição. Limitavam-se a enviar delegações a Tete para protestar contra os abusos, (idem:347).
Ainda de acordo com Pelissier (1994, p.347), foi necessário o impulso religioso na pessoa de Mbuya- principal médium (swikiro) do espírito nacional (M’pondoro) do Báruè, o Kabudu Kagolo. Mbuya fustigava ambos os pretendentes pela sua moleza e convidava - os a pegarem armas para defender o seu povo, eram as mulheres, mais ainda que os homens que cada vez menos suportavam os abusos, depois das pancadas, violadas, e sujeitas a fome, eram elas que em qualquer caso, tinham de realizar a parte essencial dos trabalhos agrícolas e - ou da construção de vias. E Nongue-Nongue aproveitou a oportunidade para obter o apoio do médium para a sua causa, declarando-se disposto a seguir os vaticínios de M’buya e a rebelar-se contra os portugueses.
Isaacman apud Pelissier (1994, p.347), diz que Nongue-Nongue depois de uma sentada, popularizou o descontentamento geral, e atraiu para junto de si muitos chefes importantes e entre eles, partidários de Macossa. Este ao sentir que os ventos favoreciam a militância, também mudou de atitude, mas conservando uma certa autonomia a fim de defender o seu futuro.
3.Objectivos da revolta
Isaacman apud Ranger (2010, p.65), sustenta que,
a revolta desencadeada em 1917 no vale do Zambeze era diferente dos movimento de resistência que ali tinham irrompido anteriormente, “com o fim de reconquistar a independência de uma formação politica histórica ou de um grupo de povos aparentados”. A revolta de 1917 destinavase a “libertar todos os povos do Zambeze da opressão colonial”, apelando especialmente aos camponeses oprimidos, independente de sua filiação étnica.

Na óptica com Pelissier (1994, p.345), diz que o objectivo era de, “expulsar os portugueses, mas não todos os brancos e a sua actuação baseava-se na expulsão das autoridades coloniais no Zambeze”.
Para evitar a repetição da derrota de 1902, Nongue-Nongue, procurou unificar todas as tendências anti-portuguesas de entre Sena e Zumbo, de ambos os lados do Zambeze ou mesmo até Beira. O tema de Nongue-Nongue era fácil de assimilar: “Todos somos explorados e humilhados e, portanto, devemos repelir os portugueses e os seus cúmplices”.
De acordo com Serra (2000, p.315), em fins de 1916 ultimara-se os preparativos para a resistência armada. Constituíram-se, então, três (3) frentes de combate principais:
·         1ª: Macossa com o seu chefe militar N’garu, comandando uma força conjunta de exércitos Báruè, Sena, Tonga e Gorongosa, na frente sudeste, com a missão de capturar Sena e destruir as propriedades da companhia de Moçambique;
·         2ª: Nongue-Nongue e o seu conselheiro militar Cuedzani, com o exército conjunto Báruè-Tauara, deviam libertar a região Mungari-Tete;
·         3ª: Finalmente no noroeste, forças Tauara, N’senga e grupos A-Chicunda deviam erradicar a presença portuguesa do zumbo e dos postos administrativos de Cachomba e Chicoa.
Os insurrectos cingiam sobre a cabeça com um pano vermelho e um código de palavras apropriadas, permitiam a identificação entre os diversos grupos componentes do exército, (ibdem:316).
Segundo Newitt (1997, p.367), apesar da revolta atrair o apoio maciço de quase todos os grupos étnicos do vale, era ainda em muitos aspectos uma insurreição que olhava para o passado e aceitavam nas crenças e práticas tradicionais. Os combatentes dispunham de: “Mesinhas” que transformaria as balas em água e na região de Tavara as pessoas eram incitadas a matar os porcos antes de aderirem a revolta.
A preparação dos baruitas para a revolta passou-se despercebida dos portugueses, pois devido a mobilização dos europeus para lutar contra os alemães, deixara no Báruè apenas um secretário de circunscrição e militares nenhuns, (Pelissier: 1994, p.349).
De inicio, o êxito foi dos baruitas, devido a falta de preparação por parte dos portugueses. Mas o ponto de viragem deu se segundo Serra, (2000:316), em Novembro de 1920, quando a revolta foi controlada pelos portugueses, que tinham reforçado o seu exército com mais de trinta mil soldados Nguni, além do auxílio militar recebido da Rodésia e Niassalândia.
No âmbito da guerra, a resposta portuguesa estava em acção dois poderes: a companhia de Moçambique e o exército. O plano de ataque português era:
·         Proteger e reconquistar, com prioridade, as partes úteis das terras da companhia (caminho de ferro da Rodésia e fazendas da margem sul do Zambeze);
·         Cair em seguida sobre o coração de Báruè a fim de extinguir o foco central, (Pelissier, 1994, p.362).
A guerra teve três (3) fases: Numa primeira fase foi enviada uma canhoneira para o Zambeze e o ponto estratégico de Tambara capturado em finais de Maio. As colunas portuguesas derrotaram os principais exércitos rebeldes e libertaram as cidades ameaçadas em finais de 1917. Numa segunda fase: os combates tiveram lugar nas montanhas da escarpa ao longo da fronteira rodesiana, onde os bandos de rebeldes se movimentavam com relativa liberdade entrando na e saindo da Rodésia e desencadearam ataques as posições portuguesas. Numa terceira fase: em finais de 1918 porém, todos os líderes de Báruè tinham fugido para o exílio onde foram desarmados, (Newit, 1997,p.367).

4.Causas do fracasso da resistência

Para Serra (2000, p.316), aponta as seguintes causas:
·         Elevado número de efectivo por parte dos portugueses;
·         A superioridade dos armamentos, pois os portugueses já usavam a artilharia e metralhadora;
·         Conflitos e deserções entre membros da “elite” dirigentes da resistência;
·         Alguns erros tácticos por parte dos Báruè, pois continuavam a valer-se das Arengas, o que desmotivou os soldados acossados pela artilharia provocando as deserções;
·         As deserções nas fileiras Báruè após a médium espírita M’buya ter vaticinado a derrota dos Báruè por não haverem obedecido as regras ancestrais no tocante ao não pisarem os estercos dos porcos, seu totem, o que desmotivou soldados fortemente confiantes nos amuletos e punções dos espíritos M’pondoro.

5.Consequências da revolta de Báruè

De acordo com Ranger (2010, p.65), do ponto de vista da soberania, podese afirmar que eles anteciparam sua reconquista e o triunfo do nacionalismo africano. Na medida em que são depositários de ideologias proféticas, podese considerar que tenham contribuído para novos agrupamentos em torno de ideias. Alguns trouxeram consigo a melhora da situação dos povos revoltados. Outros instituíram lideranças alternativas oficialmente reconhecidos.



Conclusão

Após a realização do trabalho, concluiu-se que a presença portuguesa na região do Zambeze tanto como nas outras áreas encomodavam os nativos, visto que eles viam os seus direitos alienados pelos portugueses.
Para ultrapassar este mal, vários povos de Báruè lutaram para reprimir e expulsar todos que - lhes exploravam e humilhavam juntamente com os seus cúmplices, conforme dizia o lema de Nongue-Nongue, um dos macombes da revolta de Báruè durante a revolta. Para isso, o macombe formou e usou três frentes de combate, cada uma com o seu objectivos: 1ª frente liderada por Macossa um dos macombe juntamente com o N’garu, com a missão de capturar Sena e destruir as propriedades da companhia de Moçambique; a 2ª , liderada por Nongue-Nongue e o seu conselheiro Cuedzani, com a missão de libertar a região de Mungari - Tete e, finalmente a 3ª frente composta por forças Tauara e grupos A-Chicunda, com a missão de erradicar a presença portuguesa no Zumbo.
A luta não foi fácil, apesar de no inicio o êxito for totalmente dos báruès, visto que a preparação da guerra passou despercebida dos portugueses devido o conflito que eles travaram com os alemães no norte de Moçambique.
Por volta de 1918-1920, os portugueses tomaram o controlo do conflito e os macombes juntamente com os homens refugiaram para a Rodésia do Sul, onde foram desarmados.
A revolta de Báruè serviu como impulso para os movimentos de resistência contemporâneos em prol da liberdade. E do ponto de vista da soberania, eles anteciparam a sua reconquista e o triunfo do nacionalismo africano.





Bibliografia

·         NEWITT, Malyn. História de Moçambique. Publicação Europa-América. S/l; 1997.
·         SERRA, Carlos. História de Moçambique. Agressão Imperialista-1886-1930; Livraria Universitária da UEM. Maputo; 2000;
·         PELISSIER, René. História de Moçambique - Formação e Oposição 1854-1918; II Volume; Imprensa Universitária; Editorial Estampa; Portugal; 1994;
·         RANGER, Terance. O. História Geral de África: África Sob dominação Colonial 1880-1935; 2ª Edição - Rev; edição Albert Adu Boahen; Brasília: Unesco; 2010.